terça-feira, 3 de março de 2015

Os Escrachos denunciam à sociedade onde moram supostos agentes da ditadura

por Aline Ramos

Eles pediram a voz na primeira audiência conjunta da Comissão da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), e da Comissão Nacional da Verdade que aconteceu no dia 12 de novembro de 2012. Seis jovens do Levante Popular da Juventude queriam contar que estão sendo processados pelo médico José Carlos Pinheiro após participarem de dois “escrachos” - manifestações públicas - para divulgar que ele teria colaborado com torturadores durante a ditadura militar. Com faixas, apitos, tambores e sprays de tinta, o grupo de jovens se dirigiu a frente do hospital que José Carlos Pinheiro trabalha em Aracaju (SE) para denunciar a suposta participação em sessões de tortura.

Essa e tantas outras manifestações já ocorreram em onze estados no Brasil desde 2011. Chamadas de “Escrachos”, jovens denunciam em frente residências e locais de trabalho de suspeitos de participação em sessões de tortura durante a Ditadura Militar. Os Escrachos são organizados pelo Levante Popular da Juventude, movimento social que nasceu em 2005, no Rio Grande do Sul.

A origem dos escrachos é antiga. A ideia surgiu em um acampamento em Córdoba durante a Páscoa de 1995 e se materializou meses mais tarde, num segundo encontro, que reuniu mais de 400 jovens entre 18 e 25 anos. Ele nasceu de uma organização que reuniu os filhos dos desaparecidos, prisioneiros mortos, exilados e políticos da ditadura: H.I.J.O.S (Crianças pela Identidade e Justiça contra o Esquecimento e Silêncio).

Os escrachos na Argentina ajudaram no julgamento dos criminosos da ditadura e na recuperação da história do país. Como coloca Lauro Duvoisin, integrante do Levante no Rio Grande do Sul. “Parece que houve uma quebra de continuidade geracional no Brasil. Na Argentina, desde muito tempo existe a luta das Madres (movimento semelhante às Mães de Maio no Brasil) que se tornou um símbolo continental”. E aponta a necessidade dos Escrachos serem feitos no Brasil: “embora exista a luta dos familiares, essa luta teve muito menos projeção social do que no caso da Argentina ou do próprio Chile”.

Mesmo informando a sociedade sobre a importância de relembrar quem foram os agentes na ditadura, os escrachos possuem seu lado perverso como defende o escritor Carlos Balmaceda: “são instrumentos políticos fascistas para identificar, classificar e castigar as pessoas”. O escritor não retira a importância do julgamento dos criminosos da ditadura, porém, ressalta que este é um perigoso caminho.

O processo que os estudantes sergipanos estão sofrendo por terem feito um escracho pode estar ligado a esse caminho. O de condenar antes de qualquer julgamento, que é o objetivo das Comissões da Verdade que têm surgido em diversas cidades. O médico José Carlos Pinheiro, em nota oficial informou não ter participado e colaborado direta ou indiretamente de atos de tortura e alega que pode ter sido confundido. 

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