A tortura e o desaparecimento forçado marcam o uso da violência pela ditadura brasileira
por Vinicius Martins
Na segunda metade do Século XX, diversos países da
América Latina se fecharam
em regimes de característica
autoritária. Vários pontos eram
semelhantes entre esses governos,
como o comando militar, a
grande força usada para governar
e, consequentemente, o uso de
extrema opressão contra a oposição.
No Brasil não foi diferente. O
regime militar impôs forte censura
política e cultural. Passeatas
e protestos em locais públicos
foram reprimidos com violência.
Centenas de pessoas eram presas
por tentarem propagar ideias
contrárias ao governo. Assim, o
fortalecimento dos militares no
poder teve suas consequências.
Cada vez mais a repressão crescia
e mais opositores e suspeitos iam
para a cadeia.
A partir de 1968, com a instituição
do AI-5 (Ato Institucional
nº5), a repressão praticada pelo
Estado aumentou. Membros da
sociedade civil eram mortos em
atentados ou simplesmente desapareciam
de maneira forçada.
Muitos presos foram torturados.
O objetivo era evitar que a oposição
e suas ideias se fortalecessem.
Com isso, o regime militar
continuaria soberano.
Carlos Roberto Pittoli, atualmente
advogado e ex-preso político da ditadura militar, fazia parte
do exército na época do regime.
“Em 1965 eu fui servir o exército,
fui convocado pra isso, em Quitaúna,
no 4º Regimento de Infantaria.
Eu cheguei lá nervoso, preocupado,
porque eu fui obrigado a
servir. Era uma situação difícil, já
fazia oito meses que o Exército, a
Marinha e a Aeronáutica estavam
dominando tudo, controlando
bem a situação para o lado deles”,
recorda-se.
Apesar de servir ao exército,
Pitolli tinha ligações com movimentos
opositores ao regime,
como o Movimento Nacionalista
Revolucionário (MNR). O ex-sargento
foi dedurado por um preso
que falou a respeito de sua liga-
ção e atuação em organizações
de oposição. Como consequência,
acabou preso e torturado:
“fui levado para a escolinha (local
onde aconteciam as torturas nos
quartéis) e lá estava o preso que
me denunciou, jogado em uma
cadeira, com a cabeça para trás,
ele também foi torturado. Ali, me
deram um soco, me amarraram
e me torturaram, com choques e
queimaduras”.
Após a sessão de tortura, Pittoli
continuou preso, em péssimas
condições, assim como outros
presos que passaram pelo mesmo
processo. Aqueles que não
aguentavam as agressões acabavam
mortos. Os corpos eram jogados
no mar ou enterrados em
valas comuns.
Em 1975, a morte do jornalista
Vladimir Herzog foi um dos
marcos para que a sociedade civil
intensificasse o desejo por liberdade
e o fim do autoritarismo no
Brasil. Surgiram movimentos pela
Anistia e pela redemocratização
do país até o fim da Ditadura Militar.
Mesmo assim até hoje não
há um esclarecimento formal por
parte do Estado para o desaparecimento
e morte de centenas de presos
políticos no Brasil.
Vladimir Herzog
Vladimir Herzog, croata naturalizado brasileiro, era diretor de jornalismo da TV Cultura e morreu aos 38 anos, após ser torturado nas dependências do Departamento de Operações de Informações e Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-CODI, órgão de repressão do regime militar. Tornou-se o caso mais famoso de tortura na ditadura. Sua morte, divulgada como suicídio (fato desmentido anos mais tarde), foi o estopim para que a sociedade intensificasse a luta pela democracia no Brasil.