terça-feira, 3 de março de 2015

A tortura e o desaparecimento forçado marcam o uso da violência pela ditadura brasileira

por Vinicius Martins

Na segunda metade do Século XX, diversos países da América Latina se fecharam em regimes de característica autoritária. Vários pontos eram semelhantes entre esses governos, como o comando militar, a grande força usada para governar e, consequentemente, o uso de extrema opressão contra a oposição.

No Brasil não foi diferente. O regime militar impôs forte censura política e cultural. Passeatas e protestos em locais públicos foram reprimidos com violência. Centenas de pessoas eram presas por tentarem propagar ideias contrárias ao governo. Assim, o fortalecimento dos militares no poder teve suas consequências. Cada vez mais a repressão crescia e mais opositores e suspeitos iam para a cadeia.

A partir de 1968, com a instituição do AI-5 (Ato Institucional nº5), a repressão praticada pelo Estado aumentou. Membros da sociedade civil eram mortos em atentados ou simplesmente desapareciam de maneira forçada. Muitos presos foram torturados. O objetivo era evitar que a oposição e suas ideias se fortalecessem. Com isso, o regime militar continuaria soberano.

Carlos Roberto Pittoli, atualmente advogado e ex-preso político da ditadura militar, fazia parte do exército na época do regime. “Em 1965 eu fui servir o exército, fui convocado pra isso, em Quitaúna, no 4º Regimento de Infantaria. Eu cheguei lá nervoso, preocupado, porque eu fui obrigado a servir. Era uma situação difícil, já fazia oito meses que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica estavam dominando tudo, controlando bem a situação para o lado deles”, recorda-se.

Apesar de servir ao exército, Pitolli tinha ligações com movimentos opositores ao regime, como o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR). O ex-sargento foi dedurado por um preso que falou a respeito de sua liga- ção e atuação em organizações de oposição. Como consequência, acabou preso e torturado: “fui levado para a escolinha (local onde aconteciam as torturas nos quartéis) e lá estava o preso que me denunciou, jogado em uma cadeira, com a cabeça para trás, ele também foi torturado. Ali, me deram um soco, me amarraram e me torturaram, com choques e queimaduras”.

Após a sessão de tortura, Pittoli continuou preso, em péssimas condições, assim como outros presos que passaram pelo mesmo processo. Aqueles que não aguentavam as agressões acabavam mortos. Os corpos eram jogados no mar ou enterrados em valas comuns.

Em 1975, a morte do jornalista Vladimir Herzog foi um dos marcos para que a sociedade civil intensificasse o desejo por liberdade e o fim do autoritarismo no Brasil. Surgiram movimentos pela Anistia e pela redemocratização do país até o fim da Ditadura Militar. Mesmo assim até hoje não há um esclarecimento formal por parte do Estado para o desaparecimento e morte de centenas de presos políticos no Brasil.

Vladimir Herzog

Vladimir Herzog, croata naturalizado brasileiro, era diretor de jornalismo da TV Cultura e morreu aos 38 anos, após ser torturado nas dependências do Departamento de Operações de Informações e Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-CODI, órgão de repressão do regime militar. Tornou-se o caso mais famoso de tortura na ditadura. Sua morte, divulgada como suicídio (fato desmentido anos mais tarde), foi o estopim para que a sociedade intensificasse a luta pela democracia no Brasil.

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