terça-feira, 3 de março de 2015

O meretrício mais famoso do Brasil era muito mais que uma “casa de diversão”

por Arthur Ferreira

Eny Cezarino morreu no final de agosto de 87. Tentava, com sua última aliança de brilhantes, pagar o médico. Eny morreu aos 69 anos e não podia morrer com outra idade. Ela foi dona do bordel mais famoso do Brasil, frequentado por grandes nomes da política e grandes empresários e faz até hoje Bauru não ser só uma cidade lanche.

Sua casa foi muito mais que um meretrício. Homens poderosos visitavam à Eny, pois a comemoração com chave de ouro era obrigatória após o fechamento de acordos de grandes empresas e indústrias de porte. Segundo a pesquisa de Lúcia Helena Ferraz Sant’Agostino, a Bardahl e a Dedini ali promoviam suas convenções de final de ano para diretores e representantes, além das reuniões para os delegados das convenções políticas, no período da ditadura militar.

Nicola Avallone Jr., ex-prefeito de Bauru, contou à Revista Bauru e Região (Ano I nº1, set/93) que até o candidato era definido dentro do pólo mais importante da cidade. Príncipes visitaram o bordel. Um episódio marcante na vida de Eny foi quando um delegado aliado a Jânio Quadros, derrotado nas eleições na cidade, fechou o estabelecimento, que foi reaberto horas depois por Nicolinha na presença de um juiz. “Eny era um elemento agregador e não desagregador”. As milhares de faces da casa da Eny fizeram ela ser conhecida internacionalmente, afinal a cafetina teve uma grande sacada política. Ela ajudava creches e escolas e “cedia” sua casa para encontros corporativos.

Conta Lucius de Mello, autor da biografia da agenciadora, que o segredo do sucesso de Eny era a discrição. “Ela foi antes de tudo uma grande política. Sabia se relacionar muito bem com a clientela. Conjugava de forma muito inteligente o verbo cafetinar, ou seja, percebia os desejos dos homens e das mulheres. Eny guardava segredos, era cúmplice dos clientes, eles confiavam nela. Naquela época, a prostituição tinha glamour. As prostitutas eram apontadas nas ruas, chamadas de pecadoras pela igreja e pela sociedade que era muito menos tolerante com elas do que hoje. Eny encarava isso com um certo sucesso. Aproveitava a fama para aparecer bem diante de todos. Ensinava suas meninas a se comportarem e se vestirem como estrelas de cinema. Iam assistir filmes no cine da cidade para copiar os modelos e os trejeitos das divas de Hollywood como Elisabeth Taylor, Marilyn Monroe, Sophia Loren.”

Boatos que os aposentos do Eny’s Bar já tinham sido visitados por pelo menos dois terços de todas as assembléias legislativas de São Paulo, muitos governadores de Estado e prefeitos da região, grandes agricultores do ramo sucroalcooleiro com seus filhos e até um Presidente da República.

A casa da Eny foi muito mais que um prostíbulo. O diferencial dela foi a participação política de sua dona. Era uma casa que funcionava como curral eleitoral ou fonte de inspiração para artistas, sem deixar de cumprir sua função primordial: sexo pago.

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