terça-feira, 3 de março de 2015

Em Bauru, estudantes foram às ruas, mas sindicatos ficaram no assistencialismo

por Gabriel Cortez

Durante a ditadura militar, os sindicatos foram reprimidos com veemência pelo Estado. Em 13 de março de 1964, dezoito dias antes do Golpe, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) realizou o Comício das Reformas, na estação Central do Brasil (RJ), e propôs aos sindicatos e associa- ções de trabalhadores uma greve geral. A mobilização não se concretizou, pois os ferroviários foram os únicos a atender ao chamado. A ditadura interveio, então, em 432 sindicatos e cassou o mandato de dez mil sindicalistas. A CGT foi fechada e suas principais lideranças, presas ou exiladas. Uma lei antigreve foi decretada e o governo passou a fixar os índices de reajuste salarial.

Essa repressão ao movimento operário e aos sindicatos também ocorreu na cidade de Bauru e atingiu, particularmente, aos ferroviá- rios que apoiavam João Goulart e suas reformas, como lembra o professor de História da Unesp Bauru Célio Losnak. “No dia 1º de abril de 1964, eles fizeram uma reunião na sede da Associação Profissional dos Ferroviários da Noroeste do Brasil (NOB). A polícia atacou o local e, usando bombas de efeito moral, dissolveu a reunião. Houve repressão e muitos ficaram presos e responderam a interrogatórios e a inquéritos”, conta.

De calça clara, no meio da faixa, Fábio Negrão enfrenta os militares na Rua Batista de Carvalho (foto: Pedro Romualdo)
Segundo o historiador, os movimentos sindicais que ocorreram na cidade tiveram apenas uma relação assistencial com o operá- rio: “até os anos 80, os movimentos sindicais bauruenses estavam amarrados à estrutura do Governo Federal. As negociações salariais eram submetidas ao Ministério do Trabalho e ao controle político dos militares e o espaço de manobra dos sindicatos era muito restrito. Eles não tinham uma autonomia significativa”.

No período de 1979 a 1980, mesmo com as lutas dos metalúrgicos do ABC paulista, a quase totalidade dos Sindicatos em Bauru ainda era controlada por dire- ções pelegas (alinhadas aos interesses dos militares). Havia muita dificuldade para os trabalhadores se organizarem em virtude da repressão. Em 1984, a Associação dos Ferroviários da NOB foi transformada em Sindicato dos Trabalhadores e Empresas Ferroviárias de Bauru e Mato Grosso do Sul, e sua primeira direção também teve uma concepção pelega de ação.

Estudantes, políticos e religiosos protestam

Célio Losnak explica também que os movimentos sociais se mobilizaram em três frentes em Bauru: o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), como único movimento político organizado; as Comunidades Eclesiais de Base, ala mais popular da Igreja Católica que estudava a bíblia de acordo com a realidade de mazelas vividas pela comunidade; e o movimento estudantil, cuja principal vertente se organizou na Fundação Educacional de Bauru, a antiga FEB (atual Unesp). O movimento estudantil ressurge em 1978 e, segundo Losnak, “foi uma mobilização centrada nas questões dos alunos, mas que, em alguns momentos fazia manifestações de rua”.

Fábio Negrão liderou os estudantes, entre 1978 e 1982, e conta que a principal luta política do grupo era pela anistia ampla, geral e irrestrita. No dia 21/08/1980, Negrão participou de uma manifestação a favor do ensino público gratuito e da liberdade de expressão, na Praça Ruy Barbosa. “A gente estava em menos de 100 pessoas e a polícia militar fechou a praça. Ao invés de tentarmos descer para o terminal rodoviário, que estava sendo inaugurado naquele dia, com a presença do presidente (João Baptista) Figueiredo, fomos obrigados a recuar”, recorda.

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